Para quem consegue enxergar um padrão global - e assustador - nos assuntos relacionados à política e a democracia nos últimos anos, o livro How Democracies Die: What History Reveals About Our Future, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, é esclarecedor.
Os autores, ambos cientistas políticos e professores em Harvard, são certeiros em nos apresentar o óbvio: Existem falhas estruturais na democracia.
O ponto mais crítico - e que mais me impactou - foi o fato apontado de que governos antidemocráticos tomaram o poder por meio da democracia.
É um paradoxo assombroso e ao longo da narrativa de Steven e Daniel fica claro que estamos à beira de um colapso.
O livro faz um ótimo paralelo com Trump nos EUA e o avanço da extrema direita na Europa e na América Latina com a ascensão de Hitler e Mussolini nos anos 30 e também as ditaduras miltares na América Latina nos 70.
É interessante a abordagem, mostrando que às vezes a democracia é corroída aos poucos e “meio sem querer”.
Existem muitos casos onde o poder se torna mais importante do que o próprio processo democrático e isso é um dos indícios do declínio.
O autoritarismo parece ser o cerne da queda de uma democracia.
Os autores fazem uma análise, olhando para a história, e nos mostram como é fácil identificar autoritários e seus comportamentos.
É impressionante ver que nos EUA - onde supostamente tínhamos a mais sólida das democracias - Trump seguiu à risca o manual imaginário dos autoritários.
Inclusive, os autores deixam bem claro que, Trump foi o único candidato à presidência que rompeu todas as barreiras e utilizou todas as “técnicas” possíveis que caracterizam um ditador.
Algumas das características são as seguintes: Atacar a mídia, refutar resultados de eleições, ameaçar candidatos concorrentes, violência no discurso.
Alguma semelhança com algum outro governo? 🤔
As fundações da democracia estão muito frágeis.
Steven e Daniel salientam que duas normas básicas devem ser seguidas para uma democracia funcionar bem: mutual toleration e forbearance.
Mutual toleration é aceitar que um oponente político é legítimo. É aceitar que rivais também são cidadãos leais.
Forbearance é o ato de não exercer um determinado poder legal, e esse talvez seja mais difícil. Imagine que nos EUA o presidente tem o poder de perdoar qualquer crime a qualquer momento.
A conclusão é de que Trump não é o problema, mas sim o sintoma. O problema é muito mais profundo.
Ao mesmo tempo que ler “Como as democracias morrem” foi assustador, também foi muito gratificante.
As análises, contrapontos e comparações com a história me fizeram refletir bastante sobre o momento atual que vivemos no Brasil.
A democracia pode estar quebrada em alguns pontos e sempre haverão aqueles que tentarão derruba-la de vez, porém, um futuro ainda mais democrático e justo é possível.