Há pouco escrevi aqui no blog algumas palavras bonitas relacionadas ao Instagram no post Fuck You Instagram.
Minha crítica gira em torno da máquina centralizadora de atenção que o Instagram se tornou.
Atualmente pertencente a família de produtos e serviços Zuckerberg - que se baseiam primariamente no capitalismo de vigilância - o Instagram segue popular, crescendo e gerando alguns bons dólares.
Para entender melhor a origem e história por trás da criação, venda e como o Instagram chegou onde chegou, recorri ao No Filter: The Inside Story of Instagram.
A autora, Sarah Frier, narra de forma super didática a história não dita do app de fotos de US1 bilhão.
Sarah é uma repórter reconhecida e premiada e em “No Filter” ela conta os detalhes dos bastidores que vão da concepção até a venda, do início cheio de promessas de Zuckerberg e do final onde os fundadores, Kevin Systrom e Mike Krieger, abandoram o barco.
Eu sinceramente duvido alguém cultivar algum tipo de simpatia por Zuckerberg após ler “No Filter”.
Ao comprar o app - ⚠️ alô antitruste ⚠️ - e toda sua base de adeptos por uma quantia absurda, Zuckerberg foi estratégico.
O Instagram na época da compra já era uma rede social relevante e com enorme potencial. As cópias descaradas, tentativas fracassadas e investidas do Facebook em uma solução focada na câmera dos smartphones (se tornando cada vez mais populares na época) já nos davam o sinal de que algo maior estava por vir.
As atitudes e condução de Zuckerberg no processo pós-compra beiram o patético.
Eu acabei o livro sem entender de fato as reais motivações nas ações e decisões do ditador das redes sociais.
Ao comprar o Instagram, Facebook passou a ser dono do app, certo? Se o Instagram passa a ser relevante e inovador, o Facebook também ganha, não? Se o Instagram passa a ter 1 bilhão de usuários, o Facebook passa a ter mais 1 bilhão de usuários, não?
A resposta é não. Ao menos na visão do dono da porra toda.
“No Filter” nos mostra que a auto sabotagem rolava solta. De um lado, os fundadores do app fazendo um trabalho diferenciado e buscando crescer cada vez mais de maneira a não perder a conexão com a origem. De outro, Zuckerberg limitando recursos e podando ideias.
Chegou ao ponto de Zuckerberg questionar e fazer uma analogia ao canibalismo. Isso mesmo, em sua visão, ao crescer e inovar, o Instagram estava comendo o Facebook.
São inúmeros os casos citados por Sarah, todos eles no mesmo nível do canibalismo.
Me surpreende o fato de os fundadores terem aguentado tamanha escrotidão, falta de respeito e falta de honestidade, afinal de contas, o acordo era que o Instagram seguiria independente e sem interferências.
Outro fato importante abordado no livro e que escancara um dos grandes problemas das redes sociais (no meu ponto de vista) é a celebração a vaidade, futilidade e o culto ao mundo perfeito.
O Instagram nasceu com essa premissa, mesmo que de forma inocente. Na essência a ideia era criar uma forma de democratizar a arte.
Uma foto poderia ser bonita sem que o usuário necessariamente soubesse usar o Gimp ou Photoshop.
Eu achei interessante e curioso saber que o embrião do Instagram tinha um diferencial focado em arte, mas isso durou pouco.
Imagens valem mais que mil palavras e imagens bonitas parecem valer mais ainda.
Em pouco tempo a pequena startup notou que o caminho da grandeza estava em apostar na velha fórmula e recorrer as celebridades.
O livro nos mostra que o Instagram sozinho não seria nada. Celebridades fizeram o app chegar onde chegou.
Sabe aquela selfie viral do Oscar no Twitter?
É Hollywood né, não sei nem como não me passou pela cabeça de que tudo tenha sido orquestrado e capitalizado.
Ao ponto que Ellen DeGeneres teve que até trocar de telefone. Sai o iPhone entra um Samsung.
O Instagram bebeu da fonte e se utilizou de estratégias semelhantes.
Voltando ao início, é incontestável o fato de que a história do Instagram seja uma história de “sucesso” (pensando em grana e no vale do silício way of life).
Sucesso esse que se deve aos fundadores e principalmente as poucas pessoas que desenvolveram o app e aguentaram a pressão de uma aquisição tão turbulenta.
Vale também salientar um ponto que me perturbou bastante.
Após a venda - e volto a frisar o valor: US$1 BILHÃO - não existiu nenhum tipo de recompensa aos poucos trabalhadores e isso gerou, por motivos óbvios, uma certa insatisfação.
Com 1 BILHÃO não foi possível separar um bônus para quem de fato construiu a plataforma? Aparentemente não.
Eu particularmente gosto desse tipo de leitura onde é possível “conhecer” mais essas figuras endeusadas da atualidade.
O livro conta a história do Instagram sem filtros, sem o glamour e sem medo de apontar os problemas que a rede social criou e as armadilhas em que caiu.
Para quem ainda é encantado(a) pelo vale do silício, “No Filter” apresenta os bastidores e o encanamento sujo que é a fundação de tudo que consumimos.
Aos que já passaram dessa fase de deslumbramento, o livro contribui bastante também, pois independente de tudo, o Instagram é um dos maiores cases na história da internet.
Para 2020 acho que estou satisfeito, chega de Zuckerberg e suas catástrofes.